Um texto maravilhoso de Tchékov !!!
´´E quando penso em minha vocação, não tenho medo da vida.´´
NINA
Por que é que você diz que beijava a terra onde pisei? Gente como eu se mata! Estou tão cansada! Se eu pudesse descansar... descansar...! Eu sou uma gaivota... Não, não é isso. Eu sou uma atriz. Eu sei que sou! Ah, ele também está aí. Mas é claro...
não tem importância... é... Ele não acreditava em teatro, ria de todos os meus sonhos,
e, aos poucos, eu também fui deixando de acreditar, e perdi a coragem... Isso e mais
todas as angústias de amor e ciúme, a eterna preocupação com o neném... Eu não
sabia mais o que fazer com os braços, não sabia o que fazer em cena, não sabia mais
usar a voz. Você não imagina o que é saber que se está representando
vergonhosamente mal. Eu sou uma gaivota. Não, não é isso... Você lembra, um dia que
você matou uma gaivota? Um homem que passou por acaso a pegou, e tirou-lhe a
vida, assim, por falta do que fazer. Não parece enredo de romance?... Mas não é isso...
O que é que eu estava dizendo? Ah, sei; estava falando do teatro.
Agora já está tudo bem diferente... Agora eu já sou uma atriz de verdade; eu trabalho
com alegria, com êxtase, em cena eu fico como que embriagada, e tenho a impressão
de que fico linda. E agora, nesses dias aqui, eu tenho andado sem parar, e pensando e
pensando, e eu tenho a impressão que cada dia estou ficando um pouco mais forte...
agora eu sei, Kostia, agora eu compreendo que o essencial em nossa profissão – tanto
faz que seja no palco ou na literatura – o essencial não é a glória, nem a fama, nem
nada daquilo com que eu sonhava, e sim saber agüentar com paciência... saber
carregar a cruz e ter fé. Eu tenho fé, e já não sofro tanto. E quando penso em minha
vocação, não tenho medo da vida.
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